domingo, outubro 22, 2006

Desespero Humano



E, esvaziada a ampulheta, a ampulheta terrestre, reduzidos a silêncio todos os ruídos do século, acabada a nossa agitação febril e estéril, quando em redor tudo for silêncio, como na eternidade - homem ou mulher, rico ou pobre, senhor ou subalterno, feliz ou malaventurado, quer a tua cabeça tenha suportado o brilho da coroa ou que, perdido entre os humildes, não tenhas tido mais do que as penas e os suores dos dias, quer a tua glória seja celebrada enquanto durar o mundo ou esquecido, sem nome, anonimamente sigas a multidão inumerável; quer o esplendor que te rodeou tenha ultrapassado qualquer descrição humana, ou os homens te tenham aplicado a mais dura, a mais aviltante das condenações, quem quer que tenhas sido, a ti como a cada um dos milhões dos teus semslhantes, a eternidade duma só coisa inquirirá: se a tua vida foi ou não de desespero, e se, desesperado, tu ignoravas sê-lo, ou enterravas em ti esse desespero, como um segredo angustiante, como um fruto dum amor criminoso, ou ainda se, horrorizando ainda mais, desesperado, gritavas enfurecido. E, se a tua vida não foi senão de desespero, que pode então importar o resto! Vitórias ou derrotas, para ti tudo está perdido, a eternidade não te considera comoseu, ela não te conheceu, ou, pior ainda, identificando-te, amarra-te ao teu eu, o teu eu de desepero!

2 comentários:

Vegana da Serra disse...

Adorei o ambiente da foto.

marta, a menina do blog disse...

A Elisabete também tem um blog - Mary Shelley, nos meus links.
É assustador, como não poderia deixar de ser...